domingo, 13 de janeiro de 2013

Azulejos cor de sangue


Levei minha alma para passear na verdade,
Na verdade,
Levaram-na.
Sentaram-me em azulejos cor de sangue,
E neles
Percebi que nunca sangrei...
Nada escorreu de meus ferimentos
Pois estes não eram reais.
Mas acreditei na ilusão
De que eram verdadeiros
Por isso,
Achei que as lágrimas escorridas
De meu olhar de soberba
Eram sinceros, mas não,
Nunca foram

O vermelho sangue me mostrou que estava em celas
De medo
Em celas psicológicas
Fui preso pela ilusão da auto-suficiência
Em uma gaiola no topo de uma árvore.
Mas agora desci da árvore
Que cultivei apenas para me satisfazer dos frutos.
Tinha ignorado as flores...
Não percebi que eram elas
Que me faziam feliz
Por fazer feliz.
Minhas lágrimas
Por escorrer pelos frutos,
Não eram tão sinceras quanto seriam
Se servissem para irrigar as flores.

Os azulejos sangue
Me lembravam da vida
Eles me mostraram
Quem eu realmente era
Fizeram-me jogar no lixo
Tudo aquilo que me enojava
E ao jogar na lixeira,
Reencontrei esse meu repúdio.
Pois eu estava no lixo,
Fui junto com o que joguei

Me tornara aquilo que tanto evitei

Cuspi tanto
Sem saber que cuspia para cima
Julguei tanto aqueles que compravam frutas
Por não cultivarem sua própria árvore,
Que não percebi que minha árvore
Era inútil,
Pois ela só servia como meio para conseguir frutos.
E os valorizava tanto
- mesmo sabendo que eram iguais aos comprados –
Que me esqueci do quão perfumada era a flor
Que nasce antes do fruto.

Mas o vermelho-sangue
Me fez valorizá-las
Elas são meu coração

Inclusive as que não dão frutos

Pois o fruto é conseqüência...
Mísero detalhe
Os azulejos fizeram-me descer da minha árvore
Para perceber a flor
Que nascera lá
A flor que tanto desejava
Sem saber
Mas se não a enxergasse de baixo
Utópica e inalcançável
Não me martirizaria por ter me tornado aquilo
De que tanto fugi
Essa flor foi tão necessária,
Quanto a música é para os sentimentos
Sem ela não perceberia nada.
E estar sem ela e sem o fruto que ela daria
Me fez entender seu real valor

Então o azulejo vermelho-sangue
Me mostra a flor lendo em jazz
- essa imagem merecia ser eternizada
Em preto e branco num coração
Manuscrito
Transcrito
mas um coração bonito
Vivido
Sofrido –
Assim como era o coração do prisioneiro
Que estava na direção de uma pétala.
Era...
Pelo menos um dia foi.
Pois o coração dele foi preso
Em celas marginais,
Presas pelo esquecimento.
Ao lado de carcereiros,
Mas esses de celas culturais,
Colonizadores.
O dourado
Tão sonhado
Da farda dos carcereiros
Se contrastava com o preto
Do uniforme transparente do preso...
Que foi preso por tudo...
Por nada.

Enquanto isso,
Uma grávida me dizia para ter juízo...

Juízo?!
O que é isso?!
Só me faz desejar cada vez mais o juízo final
...só para saber quem nos julgaria.
Afinal, sentando no sangue
Olhava para cima e não via nada...
Nem um simples olhar piedoso.

Então olho para cima de novo
Mas para a minha gaiola
‘cheia de liberdade’
Que se encravou na árvore
E percebo que somos todos carcereiros
...carcereiros
De nós mesmos
Prendendo-nos em celas de egos inflados
Com uma desilusão ilusória.

Volto meu olhar para meu coração
E lá,
A flor dançava com o vento
E eu, com os pensamentos.
Libertava metáforas
Ao sorrir para o luar,
Lembrando do amor que vi
Ao andar por entre os becos
(Não os do mangue)
Apenas seguindo
As gotas de sangue
Até chegar aos azulejos vermelhos.
Caminhando pela rua
No compasso de um blues lento,
Mas acompanhado por um jazz acelerado
Lisérgico
Que deixou minha poesia nua.
E tais becos
Eram belos, escuros
E foram abandonados apenas com o sofrimento
Que faz a fé no homem escorrer com o esgoto.

Me questiono:
Como podem dormir sem ver sorrisos sinceros?

Antes, na árvore,
Me perguntava isto logo após acordar
sorrindo.

O vermelho sangue
Me mostrou
O que o vermelho barro
Distanciava.

Os azulejos vadios de uma escada verde e amarela.

Mostraram-me
Onde,
Com um isqueiro na mão,
Queimariam minha coroa de rei
Do meu próprio baralho.
E assim,
Ao sair da árvore,
Eu
Queimei minha própria gaiola.

Minha auto-suficiência
Infame
Ilusória
Infantil
Por ter me encontrado no lixo
Percebi que procurara a coisa certa
Da forma errada
Procurei no medo.
Conheci felicidades
Mas não fui feliz.
Não senti minha desafinação.

Mas o vermelho sangue me deu um motivo
Para cantar
para a flor
- mesmo que ela não escute -
Todo o meu martírio
Confortante.
Cantar e me magoar
Por ter afogado tantas mágoas inúteis
Insustentáveis

E o perfume da flor voa
Na direção do vento
Livre
Leve
Louco
Enquanto me escondo.
Só que agora,
Contra o vento
Pois meu esconderijo original
- atrás de meus olhos fechados –
Tornou-se impossível
Afinal,
Meus olhos estão se abrindo
Para outros tempos,
Outra sinceridade
... Por mais que ainda recolha minha insignificância
Para poder piscá-los. 

4 comentários:

  1. Muito confuso! Parecem estrofes desconexas, apesar de ter versos muito bons. Procure uma fluidez poética mais consistente!

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  2. Muito obrigado pelo comentário! Tentarei melhorar a fluidez poética! Agradeço mais uma vez pelo comentário, pois toda ajuda é bem vinda e necessária!

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  3. Ao meu ver não houve um erro tão gritante em relação à fluidez, talvez eu estivesse embriagada nas metáforas bem colocadas e as palavras tão sinceras que eu não reparei... Ou apenas "as estrofes desconexas" formaram a atmosfera perfeita para os versos muito bem escritos, que da forma "desconexa" tudo se encontrou no final perfeitamente bem. Se isso é um texto sem fluídez poética, me desculpe, mas prefiro ficar sem fluidez e com o texto maravilhoso!

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  4. Muito bom, João! Neste seu poema, a forma reflete o conteúdo, o que não é fácil de fazer. Este ano você vai estudar, em literatura, a influência das Vanguardas Europeias no Modernismo, e as três fases do Modernismo. Tenho certeza de que você vai gostar. :)
    Bia Petri

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