quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Covarde

E sozinho, eu olho para o espelho
Percebo que não consigo esconder, mas quem me dera...
É meu olhar amedrontado que está vermelho
Encharcando-se de lágrima mortífera e sincera

Já que nasci para ser alimento do seu ego
E o teu sabor é tudo que eu preciso
Se choro é por você e eu não nego
Pois, pelo menos assim, eu irrigo seu narciso

Mas o espelho continua a me encarar
Rir do meu medo e da minha insegurança
Zombar de mim e de tudo que eu falar
Me mata em ti e em mim só a esperança

Se por um lado, sinto na alma um alívio
Ao saber que sua felicidade não depende de mim
Está cada vez mais difícil esse convívio
Com o fato de que não sirvo nem para ser um insensível manequim

Meus dedos sujos, calejados, ensanguentados
Acariciam o vento, sonhando ser você
Se eles são frágeis, deméritos e acovardados
Não merecem nada, nada além do que te perder

Já que eu não quero te sujar com o meu sangue
Pois não mereces saber que eu morri
Afinal, seu amor é bumerangue
Só é bom se ele voltar para ti

Sou pessimista, negativo e dramático
Podre por dentro, por fora e de perto
Sei que queres algo um pouco mais pragmático
Mas peço que tente dar valor ao incerto

Eu entendo que não encaixo no seu peito
Sou pequeno e talvez sem cor alguma
Mas posso dar um ar de interessante a meu defeito
E ser leve como pedra ou pesado como pluma

Eu só preciso ter espaço pra te amar
Se me ama ou me esquece, tudo bem
Não ocupe seus pensamentos com o meu cantar
Só viva, seja feliz e ame alguém

Eu sou adubo para alma auto-suficiente
Fico feliz em ver o seu sorriso confortável
Pois vejo de fora, sozinho, deprimente
Como se fosse um filme e eu um pobre miserável

Isso é porque eu tenho medo de que me ame
É um sentimento muito bonito para alguém sujo como eu
Não passo de um jovem infame
Que decepciona e amarga desde que nasceu

Então não quero que se preocupe comigo
Nem precisa de um ‘eu te amo também’
Peço que olhe somente para seu umbigo
E apenas saiba que eu te amo como ninguém