sábado, 17 de novembro de 2012

Surrealismo Migrante

No brilho de teu olhar
Me conforto
Na doçura de tua alma
Me abrigo
Em teu medo e desilusão
Me encontro
E até esqueço de quem sou
...ainda bem.

Assim, me perco nos pensamentos,
Na ideia esperançosa de ver contigo
As horas derretendo-se em lágrimas

Lágrimas que só deixariam mais brilhante teu sorriso tímido.

Tuas faces envolventes inconfundíveis,
Confundem-me
És artisticamente intrigante.

Tento decifrar-te em versos, acordes e cores.
Tento encontrar, por meio da arte,
O código que separa teus sorrisos da sinceridade
O código que destranca a porta transparente, frágil
... inatingível

Mas mesmo que tal porta permaneça fechada
Meu violão quer fazer-te esquecer, momentaneamente,
Os motivos genuínos
Que tiraram tua crença e a esperança no amor
Mortal.

Meus acordes perseguem-te
A acompanham ao perceber
Que o  brilho do teu olhar
Não consegue esconder aquilo que buscas.
Pois é...

Aliás, acho que encontrará o que procura
No mais íntimo de meus pensamentos
Aquilo que inspira minha poesia
...e minha melancolia.

Isso, presumo eu,
Também é o que falta para sua felicidade fidedigna.
Para sua vida brilhar tanto quanto
Teu olhar

É todo o surrealismo migrante,
É o verso mais lindo
Que nunca foi escrito, nem sentido por ninguém
É tudo.
É você.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A Maçã e os Pombos.

      Sentado aqui sozinho em minha parnásia, apenas ouvindo 'Os Mutantes' e observando os vários tons de verde das folhas que se movimentam lentamente nas árvores. No fundo, as nuvens percorrem vagarosamente a imensidão azul tão vasta que me faz perder meus pensamentos mais sinceros e me desencontro na lembrança daquele olhar momentaneamente perfeito... durante vários momentos.
      De repente um pombo pousa na minha frente e caminha solitário, bicando o ar freneticamente. Pouco depois, outro pombo aparece, esse com penas mais claras. Os dois estavam distantes, independentes e solitários, mas ambos bicavam o ar quase que no mesmo ritmo. Entretanto, o pombo mais claro encontra o resto de uma maçã, dá umas leves bicadas na casca e sai. Ele não aproveitara o interior ainda fresco da fruta e, com isso, a maçã, que já se encontrava abandonada, se vê apodrecendo mesmo sabendo que ainda tem polpa a oferecer. Nessa hora os pombos levantam voo e tanto o claro quanto o outro partem partem para um indefinido muito previsível, repetirá o que fizera com o resto da maçã com outras frutas, algumas mais maduras que outras. A cada bater de asas a dupla regava meu olhar com mais e mais superficialidades.
      E assim volto meu olhar para a maçã, e nela posso imaginar uma lágrima de aceitação e um triste conforto. A pobre maçã que um dia fora forte, grande e brilhante, agora definha amargamente. Suas faces que eram apaixonantemente rubras pela jovialidade, agora têm a casca vermelha de tanto chorar. Mas mesmo assim, implora para que qualquer pombo a bique, a cutuque, mesmo sabendo que os sorrisos que aparecerão serão afogados pelas lágrimas mas singelas.
      Nessa hora o ambiente escurece, as nuvens que percorriam o céu apossaram-se da beleza do sol e seus poucos raios alegres não atingiam mais meu olhar e nem a quem fitava: o resto da maçã. Assim esse humilde resto de fruta -sincera e sofrida- parece se confortar na indigência, na escuridão, e mente pra si mesma sobre seu aprendizado dizendo que não desejaria mais bicadas superficiais.
      É quando outro pombo, mais sujo ainda chega e se aproxima da maçã. Nisso eu me levanto para andar, 'andar por andar somente', como já diria Cecília. Saio pois já assistira aquele filme e não queria presenciar novamente a melancolia arrependida da fruta.
      Assim caminho e vou imaginando onde estão os outros dois pombos... Acho que malhando na academia... ou em frente a uma TV, fugindo das palavras e dos sentimentos através de violência gratuita.