Sentado aqui sozinho em minha parnásia, apenas ouvindo 'Os Mutantes' e observando os vários tons de verde das folhas que se movimentam lentamente nas árvores. No fundo, as nuvens percorrem vagarosamente a imensidão azul tão vasta que me faz perder meus pensamentos mais sinceros e me desencontro na lembrança daquele olhar momentaneamente perfeito... durante vários momentos.
De repente um pombo pousa na minha frente e caminha solitário, bicando o ar freneticamente. Pouco depois, outro pombo aparece, esse com penas mais claras. Os dois estavam distantes, independentes e solitários, mas ambos bicavam o ar quase que no mesmo ritmo. Entretanto, o pombo mais claro encontra o resto de uma maçã, dá umas leves bicadas na casca e sai. Ele não aproveitara o interior ainda fresco da fruta e, com isso, a maçã, que já se encontrava abandonada, se vê apodrecendo mesmo sabendo que ainda tem polpa a oferecer. Nessa hora os pombos levantam voo e tanto o claro quanto o outro partem partem para um indefinido muito previsível, repetirá o que fizera com o resto da maçã com outras frutas, algumas mais maduras que outras. A cada bater de asas a dupla regava meu olhar com mais e mais superficialidades.
E assim volto meu olhar para a maçã, e nela posso imaginar uma lágrima de aceitação e um triste conforto. A pobre maçã que um dia fora forte, grande e brilhante, agora definha amargamente. Suas faces que eram apaixonantemente rubras pela jovialidade, agora têm a casca vermelha de tanto chorar. Mas mesmo assim, implora para que qualquer pombo a bique, a cutuque, mesmo sabendo que os sorrisos que aparecerão serão afogados pelas lágrimas mas singelas.
Nessa hora o ambiente escurece, as nuvens que percorriam o céu apossaram-se da beleza do sol e seus poucos raios alegres não atingiam mais meu olhar e nem a quem fitava: o resto da maçã. Assim esse humilde resto de fruta -sincera e sofrida- parece se confortar na indigência, na escuridão, e mente pra si mesma sobre seu aprendizado dizendo que não desejaria mais bicadas superficiais.
É quando outro pombo, mais sujo ainda chega e se aproxima da maçã. Nisso eu me levanto para andar, 'andar por andar somente', como já diria Cecília. Saio pois já assistira aquele filme e não queria presenciar novamente a melancolia arrependida da fruta.
Assim caminho e vou imaginando onde estão os outros dois pombos... Acho que malhando na academia... ou em frente a uma TV, fugindo das palavras e dos sentimentos através de violência gratuita.
Achei seu texto muito profundo... Sem muitos comentários, mas adorei o seu blog!
ResponderExcluirSe puder, faz uma visitinha no meu :) Obg
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Isabella