domingo, 30 de setembro de 2012

E como já dizia Jorge Maravilha


Aquilo que fica...

Acima das nuvens
Aquecendo o sol
Em cada lágrima de chuva
Que acompanha o mi bemol

No discurso do olhar
Para a indireta do sorriso
No verde sereno do mar
Que dá certeza ao indeciso

Em meu pálido reflexo
No corpo de meu violão
Na simplicidade do complexo
Que não escuta o coração

Em cada pétala juvenil
Da imensa rosa dos tempos
Na experiência infantil
E todos os seus questionamentos

No tempo inconsequente
E no xingamento sincero
Em cada ruído deprimente
Desse vinil verde e amarelo

No lábio vermelho
E na terra em meu pé
No inverno veraneio
Que os fazem perder a fé

Na idealização inocente
De quem não te faz feliz
Na vida sofrida da gente
Que nunca almejou o que sempre quis

Sinto pena dos que se perderam
E não encontraram o onipresente
Daqueles que nunca cresceram
Pois o coração é indigente

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O cinza e o cor-de-rosa do verde e amarelo.

Era um dia acinzentado e comum no Rio de Janeiro, daquele dias típicos que fazem os sorrisos sinceros e tímidos tornarem-se cada vez mais raros no rosto de cada um dos desbravadores urbanos da cidade grande. E olhando para o céu cinzento estava eu que, com o olhar utópico, pintava de mil cores o cinza pacato que dominava o ambiente que via da última janela do ônibus.
De repente o ônibus parou e abriu as portas traseiras para um cidadão que logo desceu, mas as portas continuaram abertas e assim dois moradores de rua correram para entrar por elas. O primeiro, um homem de uns sofridos trinta e poucos anos consegue entrar com seu cobertor nos braços, já o segundo, um garoto de no máximo 10 anos, não consegue o mesmo e enquanto entrava no ônibus as portas se fecharam e o braço esquerdo do menino se prenderam entre elas fazendo o homem esbravejar tudo o que vem a sua cabeça para alertar o motorista e livrar o garoto. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade o motorista abre novamente as portas e o menino entra no ônibus e senta ao meu lado, o homem ainda teve tempo de pegar o cobertor do menino pela janela com um rapaz. E eu, deixando as poucas cores do dia-a-dia de lado, passei a olhar o vermelho do braço do garoto que ouvia os berros histéricos e preocupados do homem que diziam 'Você está maluco? Tem que ser mais sagaz agora que está nas ruas, moleque' , 'Eu hein, quase perdeu o seu cobertor, imagina só você magrelo desse jeito nesse frio que faz de noite!'. O menino não esboçava reação, aliás, só engolia as lágrimas de dor e vergonha, que por mais sofridas nem deviam se comparar com o choro que esse garoto deve engolir todos os dias nas ruas. Enfim, logo depois de um longo e fervoroso sermão, o homem ficou em silêncio e a expressão raivosa de seu rosto foi ficando cada vez mais cabisbaixa e real, e isso foi fazendo com que o tempo silencioso ficasse cada vez mais deprimente e cativante, e mesmo com o final dos berros o menino não olhava para cima, parecia sentir-se como a maioria das pessoas o faz sentir, se é que os que transitam todos os dias por ele acreditam que tenha sentimentos. Depois de uns minutos de tensão silenciosa o homem retirou o terço cor-de-rosa que levava consigo no pescoço e colocou no menino junto com as palavras: 'Toma, agora você precisa mais disso que eu, se preocupa não, você é novo, tá aprendendo, agora somos só nós dois, e é bom que você ganha experiência, e olha, sempre jogue seu cobertor primeiro, é a coisa mais importante que você tem' e assim o homem abraça o menino que se segura por um tempo mas logo também abraça-o com toda a sua força e suspira bem baixinho um pedido de desculpas, o homem diz um 'Liga não, cara, tá tudo bem' bem acolhedor. E depois disso os dois levantaram e foram sentar em um banco em mais na frente, eu continuei lá no fundo e o olhar que pincelava as ruas agora estava acompanhado por um sorriso tímido e carregado.
Eu observava agora um carro preto de última geração que estava ao lado ônibus, ambos parados no sinal vermelho, dentro dele estavam um senhor de meia-idade e sua filha adolescente que repousava o olhar no iPhone com os fones no ouvido e durante todo o tempo que os observei não vi nenhuma interação, nenhum olhar, e voltei a apreciar as energias dos moradores de rua no ônibus, os dois sorriam livremente, pareciam esquecer por pelo menos algum tempo as feridas físicas e morais e ao ver a harmonia dos dois olhei novamente para o carro preto e senti pena daqueles que não têm nada, daqueles dois... o pai e a filha.

domingo, 2 de setembro de 2012

Deus deve ser um cara malandro...

Segunda versão de um desenho que fiz há um tempo e postei no meu outro blog

Esqueci o quê?

Pois é, logo assim que criei o blog o meu computador entrou em coma e fiquei um tempo sem poder entrar aqui... Mas agora que volte posso responder a todas aquelas pessoas que me perguntaram:
                  
          '' Ó João, mas porque o nome 
            'Esqueci meu Guarda-chuva'? ''

Então, o nome surgiu a partir de duas frases sendo a primeira uma que sempre digo para os meus coleguinhas marotos: 'É melhor escrever sob uma tempestade de emoções do que sobre um copo de conforto' e a segunda é uma frase de Bob Dylan: 'Uns sentem a chuva e outros apenas se molham'. A partir dessas frases floresceu o 'Esqueci meu Guarda-chuva' onde por mais que você apenas se molhe na tempestade de emoções, ou até mesmo se você evite se molhar, se um dia você esquecer seu guarda-chuva você terá uma experiência única e eterna, onde cada lágrima de chuva deixará seu olhar mais aberto..
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