domingo, 14 de julho de 2013

Cor, ação

Pode me chamar
de lerdo, de pobre e até de otário

Pode rir
do meu cabelo desgrenhado e, talvez, libertário

Pode gritar
que sou vagabundo, um falso revolucionário

Pode caçoar
das minhas cartas, mesmo sem saber o que é 'destinatário'

Pode até se vangloriar
por estar aí de 'patrão', enquanto eu não quero nem ser 'estagiário'

Porque só me importa o coração, e ele é um músculo involuntário

Pode escarnecer
minha voz mesmo sem conhecer meu vocabulário

Pode zombar
das minhas roupas apenas porque não comprei o seu armário

Pode me xingar
de feio, chato e bobo depois de ter procurado essas palavras no dicionário

Pode ignorar
minha arte e me enxergar como um babaca solitário

Pode banalizar
meus mergulhos profundos, enquanto fica na superfície de um simples aquário

Pode gargalhar
do meu andar só porque sigo o caminho contrário

Pode me humilhar
por não compreender e nem me interessar pelo valor monetário

Pode me ridicularizar
por não encher meu copo, nem mesmo com uma tempestade, já que meu copo é solidário

Pode rir
das flores que colhi para decorar humildemente o meu calvário

Pode cantar
glórias que não merecem espaço em um belo relicário

Porque só o que me importa são as histórias de amor de que o meu coração ainda será voluntário

domingo, 7 de julho de 2013

Meu Senhor

Confesso que gosto de escrever
Mas, meu senhor, é bem fácil de perceber
Que não é nada que alguém pague para ver
Portanto, não deve interessar a você

Entretanto, sim, eu quero um lugar para um recital
Mas, meu senhor, não espere nada genial
Eu me alegro com aquilo que agora é banal
E alguns até me chamam de sentimental

Já que as cores que saem livres do meu violão
São cores vivas que vêm do meu coração
Sim senhor, sei que não é o seu padrão
Pois a sua vida não quer saber de opinião

Mas meus versos não se tratam de prazer
Nem são aclamados por quem você gosta de ver
Canto sobre o que o senhor aprendeu a esquecer
Canto para a alma, o que não deves conhecer

Me desculpe por cuspir realidade
Gosto das vidas esquecidas da cidade
Mas se o senhor quiser que eu fuja da verdade
Tente, talvez, banhar-me em conformidade

Ou fique aí com seu terno e seu brinquedo
E deixe-me buscar minha alegria em segredo
Querendo saber o meu papel no teu enredo
E por que queres controlar-me por meu medo

Senhor, será que eu poderia te perguntar
Algo que de vez em quando me faz pensar?
Não é nada com que deva se preocupar
É só um capricho que gostaria de falar

Senhor, porque o seu olho azul
E teu cabelo liso, longo e dourado
É bem mais belo do que o meu sorriso cru
E do que os meus cachos orgulhosamente herdados?

De vez em quando paro para olhar a minha vida
E a do senhor, uma pessoa muito mais querida
Que comemora uma batalha, até então, vencida
E eu só torço para a minha voz ser ouvida

Pois gosto dessa palhaçada de amor
Sou antiquado e ainda utilizo o 'por favor'
Não entendo todo esse seu fervor
É... me desculpe por não ser como o senhor